sábado, 29 de maio de 2010

* O verbo e o verso *




Ás vezes ao ler um poema penso

por que determinado verbo

encaixou-se naquele verso ?

E nos meus devaneios invento

outras palavras que acolham

o poema ao inverso


substituo mentalmente

uma palavra aqui

uma expressão ali

imagino como seria o poema

seu eu o tivesse escrito

chocalho a gramática

reflito sobre as ideias

sobre o que foi transcrito


penso no que moveu

coração e mãos de

quem o escreveu

trago o poema

para junto do peito

abrigo cada palavra

que o teceu


tento decifrar

sua mensagem

destino para o qual

foi eleito

percebo enfim

sou eu quem o define
quem o faz aceito


guardo o poema

não o coloco em um recipiente

poemas não cabem em lugar algum

busco o poema na nascente

de todos os lugares ou de lugar nenhum


Úrsula Avner

sábado, 22 de maio de 2010

* Gênese da escrita *




versos ralos

lacônico poema

aqui e ali

saltitam palavras

carpidas ou burlescas


-miscigenação-


algum eflúvio

de rima no ar

lira exumada


Úrsula Avner


* imagem do google- sem informação de autoria

terça-feira, 18 de maio de 2010

* Apnéia 2*

arte : Dog woman
by : Paula Rego

Veja
que já não respiro
artérias latejam
pulmões arpejam

Veja
que me sufoca
o grito contido
o lamento banido

Veja
que me embrulha
o estômago pesado
o querer engasgado

Veja
que meu riso
é como o grafite do céu
me remove o friso
quero estar ao léu

A lua
no firmamento ascendeu
e como quem desdenha
não me olhou nos olhos
ficou prenha
fingiu que adoeceu
mingou até arrefecer
solitária... feneceu


Úrsula Avner

sexta-feira, 14 de maio de 2010

* do que é mistério *

arte : Patrícia Van Lubeck


em tudo que se move
há um silêncio cravejado
colossal inescrutável
cordas invisíveis
são a essência da matéria

Úrsula Avner

domingo, 9 de maio de 2010

* Do que sei II *

rastejar
não seria penoso demais
se após beijar o chão
soubesse das asas
do livre voo do arpão

Úrsula Avner

* imagem retirada do Google- sem informação de autoria

terça-feira, 4 de maio de 2010

* Vulnerável *

tela : Tarsila do Amaral


de quando em quando
um pensamento sonâmbulo
vaga entre as paredes
obtusas da mente
esbarra nas extremidades
pontiagudas
geme sangra
procura o que
considera seu
encontra o que
ainda não o acometeu

Úrsula Avner